FREIRE,
1979 p. 15 a 25
O
Compromisso do Profissional com a Sociedade
A
questão do compromisso do profissional com a sociedade nos coloca
alguns pontos que devem ser analisados. Algumas reflexões das quais
podemos fugir, necessárias para o esclarecimento do tema.
Em
primeiro lugar, a expressão “o compromisso do profissional com a
sociedade” nos apresenta o conceito do compromisso definido pelo
complemento “do profissional”, ao qual segue o termo “com a
sociedade”. Somente a presença do complemento na frase indica que
não se trata do compromisso de qualquer um, mas do profissional. A
expressão final, por sua vez, define o pólo para o qual o
compromisso se orienta e no qual o ato comprometido só aparentemente
terminaria, pois na verdade não termina, como trataremos de ver mais
adiante.
As
palavras que constituem a frase a ser analisada não estão ali
simplesmente jogadas, postas arbitrariamente. Diríamos que se
encontram, inclusive, “comprometidas” entre si e implicam, na
estrutura de suas relações, uma determinada posição, a de quem as
expressou.
O
compromisso seria uma palavra oca, uma abstração, se não
envolvesse a decisão lúcida e profunda de quem o assume. Se não se
desse no plano do concreto.
Se
prosseguirmos na análise da frase proposta, sentimos a necessidade
de uma penetração cada vez maior no conceito do compromisso, com a
qual podemos apreender aquilo que faz com que um ato se constitua em
compromisso.
Mas,
no momento em que esta necessidade nos é imposta, cada vez mais
claramente, como uma exigência prévia à análise do compromisso
definido – o do profissional com a sociedade -, uma reflexão
anterior se faz necessária. É a que se concentra em torno da
pergunta: quem pode comprometer-me?
Contudo,
como pode parecer, esta pergunta não se formula no sentido da
identificação de quem, entre alguns sujeitos hipotéticos – A, B
ou C –, é o protagonista de um ato de compromisso, numa situação
dada. É uma pergunta que se antecipa a qualquer situação de
compromisso. Indaga sobre a ontologia do ser sujeito do compromisso.
A resposta a esta indagação nos faz entender o ato comprometido,
que começa a desvelar-se diante de nossa curiosidade.
De
fato, ao nos aproximarmos da natureza do ser que é capaz de se
comprometer, estaremos nos aproximando da essência do ato
comprometido.
A
primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido
está em ser capaz de agir e refletir.
É
preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. Saber
que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência
deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta
consciência condicionada. Quer dizer, é capaz de intencionar sua
consciência para a própria forma de estar sendo, que condiciona sua
consciência de estar.
Se
a possibilidade de reflexão sobre si, sobre seu estar no mundo,
associada indissoluvelmente à sua ação sobre o mundo, não existe
no ser, seu estar no mundo se reduz a um não poder transpor os
limites que lhe são impostos pelo próprio mundo, do que resulta
que este ser não é capaz de compromisso. É um ser imerso no mundo,
no seu estar, adaptado a ele e sem ter dele consciência. Sua imersão
na realidade, da qual não pode sair, nem “distanciar-se” para
admirá-la e, assim transformá-la, faz dele um ser ”fora” do
tempo ou “sob” o tempo ou, ainda, num tempo que não é seu. O
tempo para tal ser “seria” um perpétuo presente, um eterno hoje.
A-histórico, um ser como este não pode comprometer-se; em lugar de
relacionar-se com o mundo, o ser imerso nele somente está em contato
com ele. Seus contatos não chegam a transformar o mundo, pois deles
não resultam produtos significativos, capazes de (inclusive,
voltando-se sobre ele) marcá-los.
Somente
um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se”
dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o,
transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua
própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o
seu, um ser histórico, somente esse é capaz, por tudo isto, de
comprometer-se.
Além
disso, somente este ser é já em si um compromisso. Este ser é o
homem.
Mas,
se este ser é o homem que, além de poder comprometer-se, já é um
compromisso, o que é compromisso?
Uma
vez mais teremos de voltar ao próprio homem, em busca de uma
resposta. Porém, não a um homem abstrato, mas ao homem concreto,
que existe em uma situação concreta.
Afirmamos
anteriormente que a primeira condição para que um ser pudesse
exercer um ato comprometido era a sua capacidade de atuar e refletir.
É exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a
realidade de acordo com as finalidades propostas pelo homem, à qual
esta associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser de
práxis.
Se
a ação e reflexão, como constituintes inseparáveis da
práxis, são a maneira humana de existir, isto não significa,
contudo, que não estão condicionadas, como se fossem absolutas,
pela realidade em que está o homem.
Assim,
como não há homem sem mundo, nem mundo sem homem, não pode haver
reflexão e ação fora da relação homem-realidade. Esta relação
homem-realidade, homem-mundo, ao contrário do contato animal com o
mundo, como já afirmamos, implica a transformação do mundo, cujo
produto, por sua vez, condiciona ambas, ação reflexão. É,
portanto, através de sua experiência nesta relação que o homem
desenvolve sua ação-reflexão, como também pode te-las atrofiadas.
Conforme se estabeleçam estas relações, o homem pode ou não ter
condições objetivas para o pleno exercício da maneira humana de
existir.
Contudo,
o fundamental é que esta realidade, proibitiva ou não do pensar e
do atuar autêntico, é criação dos homens. Daí ela não pode, por
ser história tal qual os homens que a criam, transformar-se por si
só. Os homens que a criam são os mesmos que podem prosseguir
transformando-as.
Pode-se
pensar, diante desta afirmação, que estamos numa espécie de beco
sem saída.
Por que se a realidade, criada pelos homens, dificulta-lhes
objetivamente seu atuar e seu pensar autênticos, como podem, então,
transformá-la para que possam pensar e atuar verdadeiramente? Se a
realidade condiciona seu pensar e atuar não autênticos, como podem
pensar corretamente o pensar e o atuar incorretos? É que, no jogo
interativo do atuar-pensar o mundo, se, num momento de experiência
histórica dos homens, os obstáculos ao seu autêntico atuar e
pensar não são visualizados, em outros, estes obstáculos passam a
ser percebidos para, finalmente, os homens ganharem com eles sua
razão. Os homens alcançam a razão dos obstáculos na medida em que
sua ação é impedida. É atuando ou não podendo atuar que lhes
acharam os obstáculos à ação, a qual não se dicotomiza da
reflexão. E como o próprio da existência humana é a
atuação-reflexão, quando se impede um homem comprometido de atuar,
os homens se sentem frustrados e por isso procuram superar a situação
de frustração.
Impedidos
de atuar, de refletir, os homens encontram-se profundamente feridos
em si mesmos, como seres de compromisso. Compromisso com o mundo, que
deve ser humanizado para a humanização dos homens, responsabilidade
com estes, com a história. Este
compromisso com a humanização do homem, que implica uma
responsabilidade histórica, não pode realizar-se através do
palavrório, nem de nenhuma outra forma de fuga do mundo, da
realidade concreta, onde se encontram os homens concretos. O
compromisso, próprio da existência humana, só existe no
engajamento com a realidade, de cuja “águas” os homens
verdadeiramente comprometidos ficam “molhados”, ensopados.
Somente assim o compromisso é verdadeiro. Ao experienciá-lo, num
ato que necessariamente é corajoso, decidido e consciente, os homens
já não se dizem neutros. A neutralidade frente ao mundo, frente ao
histórico, frente aos valores, reflete apenas o medo que se tem de
revelar o compromisso. Este medo quase sempre resulta de um
“compromisso” contra os homens, contra sua humanização, por
parte dos que se dizem neutros. Estão “comprometidos” consigo
mesmos, com seus interesses ou com os interesses dos grupos aos quais
pertencem. E como este não é um compromisso verdadeiro, assumem a
neutralidade impossível.
O
verdadeiro compromisso é a solidariedade, e não a solidariedade com
os que negam o compromisso solidário, mas com aqueles que, na
situação concreta, se encontram convertidos em “coisas”.
Comprometer-se
com a desumanização é assumi-la e, inexoravelmente, desumanizar-se
também.
Esta
é a razão pela qual o verdadeiro compromisso, que é sempre
solidário, não pode reduzir-se jamais a gestos
de falsa generosidade, nem tão pouco ser um ato unilateral, no qual
quem se compromete é o sujeito ativo do trabalho comprometido e
aquele com quem se compromete a incidência de seu compromisso. Isto
seria anular a essência do compromisso, que, sendo encontro dinâmico
de homens solidários, ao alcançar aqueles com os quais alguém se
compromete, volta destes para ele, abraçando a todos num único
gesto amoroso.
Pois
bem, se nos interessa analisar o compromisso do profissional com a
sociedade, teremos que reconhecer que ele, antes de ser profissional,
é homem. Deve ser comprometido por si mesmo.
Como
homem, que não pode estar fora de um contexto histórico-social em
cujas inter-relações constrói seu eu, é um ser autenticamente
comprometido, falsamente “comprometido” ou impedido de
comprometer verdadeiramente (impedido de comprometer-se
verdadeiramente significa a situação na qual as grandes maiorias
encontram-se manipuladas por minorias, através de ordens. Estas
grandes maiorias tem a impressão de que se comprometem, quando, na
verdade, são induzidas em seu “compromisso”. Escolhem entre as
opções – no melhor dos casos – que as minorias lhes indicam,
quase sempre manhosamente, pela propaganda).
No
caso do profissional, é necessário juntar ao compromisso genérico,
sem dúvida concreto, que lhe é próprio como homem, o seu
compromisso de profissional.
Se
de seu compromisso como homem, como já vimos, não pode fugir, fora
deste compromisso verdadeiro com o mundo e com os homens, que é
solidariedade com eles para a incessante procura da humanização,
seu compromisso como profissional, além de tudo isto, é uma dívida
que assumiu ao fazer-se profissional.
Seu
compromisso como profissional, sem dúvida, pode dicotomizar-se de
seu compromisso original de homem. O compromisso, como um quefazer
radical e totalizado, repele as racionalizações. Não posso nas 2ªs
feiras assumir compromisso como homem, para nas 3ªs feiras assumi-lo
como profissional. Uma vez que “profissional” é atributo de
homem, não posso, quando exercer um quefazer atributivo, negar o
sentido profundo do quefazer substantivo e original. Quanto mais me
capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas
experiências, quanto mais me utilizo do patrimônio cultural, que é
patrimônio de todos e ao qual todos devem servir, mais aumenta minha
responsabilidade com os homens. Não posso, por isso mesmo,
burocratizar meu compromisso de profissional, servindo, numa inversão
dolosa de valores, mais aos meios que ao fim dos homens. Não posso
me deixar seduzir pelas tentações míticas, entre elas a da minha
escravidão
às técnicas, que, sendo elaboradas pelos homens, são suas escravas
e não suas senhoras.
Não
devo julgar-me, como profissional, ”habitante” de um mundo
estranho; mundo de técnicos e especialistas salvadores dos demais,
donos da verdade, proprietários do saber, que devem ser doados aos
ignorantes e incapazes”. Habitantes de um gueto, de onde saio
messianicamente para salvar os “perdidos”, que estão fora. Se
procedido assim, não me comprometo verdadeiramente como profissional
nem como homem. Simplesmente me alieno.
Todavia,
existe algo que deve ser destacado. Na medida em que o compromisso
não pode ser um ato passivo, mas práxis – ação e reflexão
sobre a realidade -, inserção nela, ele implica indubitavelmente um
conhecimento da realidade. Se o compromisso só é válido quando
está carregado de humanismo, este, por sua vez, só é conseqüente
quando está fundado cientificamente.
Envolta, portanto, ao compromisso do profissional, seja ele quem for,
está a exigência de seu constante aperfeiçoamento, de superação
do especialismo, que não é o mesmo que especialidade. O
profissional deve ir ampliando seus conhecimentos em torno do homem,
de sua forma de estar sendo no mundo, substituindo por uma visão
crítica a visão ingênua da realidade, deformada pelos
especialismos estreitos.
Não
é possível um compromisso verdadeiro com a realidade, e com os
homens concretos que nela e com ela estão, se desta realidade e
destes homens se tem uma consciência ingênua. Não é possível um
compromisso autêntico se, àquele que se julga comprometido, a
realidade se apresenta como algo dado, estático e imutável. Se este
olha e percebe a realidade enclausurada em departamentos estanques.
Se não a vê e não a capta como uma totalidade, cujas partes se
encontram em permanente interação. Daí sua ação não pode
incidir sobre as partes isoladas, pensando que assim transforma a
realidade, mas sobre a totalidade. É
transformando a totalidade que se transformam as partes e não o
contrário. No primeiro caso, sua ação, que estaria baseada numa
visão ingênua, meramente “focalista” da realidade, não poderia
constituir um compromisso.
Um
profissional, por exemplo, para quem a Reforma Agrária é apenas um
instrumento jurídico que normaliza uma sociedade em transformação,
sem conseguir aprende-la em sua complexidade, em sua globalidade, não
pode em termos concretos comprometer-se com ela, ainda que
ideologicamente a aceite.
A
questão é que a Reforma Agrária, como um processo global, não é
algo que, não existindo anteriormente, passa a existir completa e
acabadamente, com a instauração de uma estrutura nova. A Reforma
Agrária, por ser um processo, é algo dinâmico. Dá-se no domínio
humano. As relações homem-realidade, que se verificavam na
estrutura anterior, necessariamente deixaram sua marca profunda na
forma de estar sendo do camponês. Mudada a velha estrutura, através
da Reforma, se inevitável é que, cedo ou tarde, a estrutura
instaurada condicione novas formas de pensar e de atuar, resultantes
das novas relações homem-realidade, isto não significa que essa
mudança se dê instantaneamente.
O
compromisso, portanto, de um profissional da Reforma Agrária que a
veja sob esta visão criticada, não pode ser verdadeiro, não pode
ser o compromisso do profissional, em cuja ação de caráter técnico
se esquece do homem ou se o minimiza, pensando,
ingenuamente, que existe o dilema humanismo-tecnologia. E,
respondendo ao desafio do falso dilema, opta pela técnica,
considerando que a perspectiva humanista é uma forma de retardar as
soluções mais urgentes. O erro desta concepção é tão nefasto
como o erro da sua contrária – a falsa concepção do humanismo -,
que vê na tecnologia a razão dos males do homem moderno. E o erro
básico de ambas, que não podem oferecer aos seus adeptos nenhuma
forma real de compromisso, está em que, perdendo elas a dimensão da
totalidade, não percebem o óbvio: que humanismo e tecnologia não
se excluem. Não percebem que o primeiro implica a segunda e
vice-versa. Se o meu compromisso é realmente com o homem concreto,
coma causa de sua humanização, de sua libertação, não posso por
isso mesmo prescindir da ciência, nem da tecnologia, com a quais me
vou instrumentando para melhor lutar por esta causa.
Por
isso também não posso reduzir o homem a um simples objeto da
técnica, a um autômato manipulável.
Quase
sempre, técnicos de boa vontade, embora ingênuos, deixam-se levar
pela tentação tecnicista
(mitificação da técnica) e, em nome do que chamam “necessidade
de não perder tempo”, tentam, verticalmente, substituir os
procedimentos empíricos do povo (camponeses, por exemplo) por sua
técnica.
Partem
do pressuposto verdadeiro “de que é, não só necessário, mas
urgente, aumentar a produção agrícola”. Uma das “exigências
para consegui-lo está na mudança tecnológica que deve
verificar-se”. Outro pressuposto válido.
No
entanto, ao desconhecer que tanto sua técnica como os procedimentos
empíricos dos camponeses são manifestações culturais e, deste
ponto de vista, ambas válidas, cada qual em sua medida, e que, por
isso, não podem ser mecanicamente substituídos, enganam-se e já
não podem comprometer-se.
Terminam,
então, por cair nesta irônica contradição: “para não perder
tempo” o que fazem é perde-lo.
Deformados
pela acriticidade, não são capazes de ver o homem na sua
totalidade, no seu quefazer-ação-reflexão, que sempre se dá no
mundo e sobre ele. Pelo contrário, será mais fácil, para conseguir
seus objetivos, ver o homem como uma “lata” vazia que vão
enchendo com seus “depósitos” técnicos. Mas ao desenvolver
desta forma sua ação, que tem sua incidência neste “homem lata”,
podemos melancolicamente perguntar: “onde está seu compromisso
verdadeiro com o homem, com sua humanização?”
Todavia
em nossos países há sem dúvida uma sombra que ameaça
permanentemente o compromisso verdadeiro. Ameaça que se concretiza
na autenticidade do compromisso. Estamos nos referindo à alienação
(ou alheamento) cultural que sofrem nossas sociedades.
Com
o centro de decisão econômica e cultural, em grande parte fora
delas (portanto, sociedades de economia periférica, dependente,
exportadoras de matérias-primas e importadoras não somente de
produtos manufaturados, mas também de ideias, de técnicas, de
modelos), são
sociedades “seres para outro”.
Assim,
o primeiro grande obstáculo que se apresenta nestas sociedades ao
compromisso autêntico encontra-se na falta de autenticidade de seu
próprio ser dual. Estas sociedades são e não são elas próprias.
Na
medida em que, em grande parte, para solucionar seus problemas,
importam técnicas e tecnologias, sem a devida “resolução
sociológica” destas as suas condições objetivas (não
necessariamente idênticas às das sociedades metropolitanas, onde se
desenvolvem estas tecnologias importadas), não podem proporcionar as
condições para o compromisso autêntico.
Não
há técnicas neutras que possam ser transplantadas de um contexto a
outro. A alienação do profissional não lhe permite perceber esta
obviedade. Seu compromisso se desfaz na medida em que o instrumento
para a sua ação é um instrumento estranho, às vezes antagônico,
à sua cultura.
O
alienado, seja profissional ou não, pouco importa, não distingue o
ano do calendário do ano histórico. Não percebe que existe uma
não-contemporaneidade do coetâneo.
Todas
estas manifestações de alienação e outras mais, cuja análise
detalhada não nos cabe aqui fazer, explicam
a inibição da criatividade no período de alienação. Esta,
geralmente, produz uma timidez, uma insegurança, um medo de correr
risco da aventura de criar, sem a qual não há criação. No lugar
deste risco que deve ser corrido (a existência humana é risco) e
que também caracteriza a coragem do compromisso, a alienação
estimula formalismo, que funciona como uma espécie de cinto de
segurança.
Daí
o homem alienado, inseguro e frustrado, ficar mais na forma que no
conteúdo; ver as coisas mais na superfície que em seu interior.
Seu
“pensamento” não tem força instrumental porque nasce de seu
contexto para voltar a ele. Constitui-se na nostalgia de mundos
alheios e distantes. Seu “pensamento”, finalmente, não tem
força, nem para o seu mundo, porque dele não nasceu, nem para o
outro, o mundo imaginário da sua nostalgia.
Desta
forma, como comprometer-se?
Entretanto,
no momento em que a sociedade se volta sobre si mesma e se inscreve
na difícil busca de sua autenticidade, começa a dar evidentes
sinais de preocupação pelo seu projeto histórico.
Quanto
mais cresce esta preocupação, mais desfavorável se torna o clima
para o compromisso.
Estamos
convencidos de que o momento histórico da América Latina exige de
seus profissionais uma séria reflexão sobre sua realidade, que se
transforma rapidamente, e da qual resulte sua inserção nela.
Inserção esta que, sendo crítica, é compromisso verdadeiro.
Compromisso com os destinos do país. Compromisso com seu povo. Com o
homem concreto. Compromisso com o ser mais deste homem.
Se,
numa sociedade preponderantemente alienada, o profissional, pela
natureza mesma da sociedade estruturada hierarquicamente, é um
privilegiado, numa sociedade que se está abrindo o profissional é
um comprometido ou deve sê-lo.
Fugir
da concretização deste compromisso é não só negar-se a si mesmo
como negar o projeto nacional.
FREIRE,
Paulo Educação e Mudança. Rio de Janeiro, RJ: Editora Paz e Terra,
1979.
Educação Trabalho Ciência e Tecnologia. GDE123.
ResponderExcluirUniversidade Federal de Lavras - Prof. Celso Vallin, 2013
Questões para refletir sobre texto lido.
1.
No texto estudado em aula Freire (1979) fala do compromisso do profissional com a sociedade. Primeiro fala de pessoas engajadas, corajosas, decididas, conscientes. Depois afirma que há pessoas que assumem uma neutralidade diante do mundo e que isso é, na verdade, uma desumanização – compromisso contra as pessoas. Qual seria o compromisso apontado por ele em relação às pessoas que se dizem neutras?
2.
Em um certo trecho ele diz que “seu compromisso como profissional, sem dúvida, não pode dicotomizar-se de seu compromisso original como homem”. Explique esses compromissos do qual ele fala, o de pessoa no mundo e o de profissional? Que relação o autor aponta entre um e outro?
3.
O texto fala de um compromisso que não é autêntico.
“o primeiro grande obstáculo que se apresenta nestas sociedades ao compromisso autêntico encontra-se na falta de autenticidade de seu próprio ser dual. Estas sociedades são e não são elas próprias.
Na medida em que, em grande parte, para solucionar seus problemas, importam técnicas e tecnologias, sem a devida “resolução sociológica” destas as suas condições objetivas (não necessariamente idênticas às das sociedades metropolitanas, onde se desenvolvem estas tecnologias importadas), não podem proporcionar as condições para o compromisso autêntico. ”
Está referindo-se ao Brasil ou a outros países? O que está criticando? O que está apontando como necessário para o bom uso das técnicas e tecnologias?