sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018


UM OLHAR SOBRE A COLETA SELETIVA E A RECICLAGEM NO MUNICÍPIO DE NEPOMUCENO MG: A COOPERATIVA RECLICLANEP.


Para citar esse artigo:

LIBERATO, Vanderleia ; SILVA, Barbara ; SANTOS, Vladimir ; VALLIN, CELSO . Um olhar sobre a coleta seletiva e a reciclagem no município de Nepomuceno MG: a cooperativa Reciclanep. In: I Congresso Internacional e III Congresso Nacional Movimentos Sociais e Educação ? 20 a 22 de setembro. UESC, 2016, Ilhéus BA. I Congresso Internacional e III Congresso Nacional Movimentos Sociais e Educação ? 20 a 22 de setembro. UESC. Ilhéus BA: UESC, 2016. v. único


Resumo: Nos últimos anos, o debate sobre a preservação ambiental e os problemas ambientais tem sido alvos de discussões e o que mais se destacam entre eles é o acúmulo de resíduos sólidos. Nesse contexto, a coleta seletiva tem sido apontada como uma das alternativas promissoras no sentido de auxiliar na diminuição do volume de resíduo sólidos e também como uma forma de gerar renda para a população em condição de vulnerabilidade social e econômica. Este estudo é resultado de uma pesquisa feita na cidade de Nepomuceno MG e teve como objetivo conhecer o trabalho da cooperativa de catadores de materiais recicláveis do município de Nepomuceno (RECICLANEP) e os benefícios desta atividade. Para atingir tal objetivo, foi feita a observação do cotidiano dos trabalhadores cooperados e, também, entrevistou-se os cooperados e o administrador da cooperativa. Por meio dos resultados alcançados, foi possível conhecer a história de criação da cooperativa e como ocorre o processo de coleta seletiva no município. Foram encontrados muitos benefícios provenientes do trabalho na Cooperativa tanto para os antigos trabalhadores do lixão, para a cidade e para o meio ambiente.

17 páginas

Introdução
Ao longo dos anos, os problemas ambientais tem sido alvo de debate em vários campos de pesquisa. À medida que crescem os problemas, são propostas novas alternativas para minimizá-los.
A reciclagem é uma forma de destinar parte do resíduo sólido produzido de forma responsável e vários materiais podem ser reciclados, entre eles, o vidro, o metal, o alumínio, o papel, plástico entre outros. Assim, por meio da reciclagem, obtém-se a diminuição significativa da poluição do ambiente.
Neste cenário a coleta seletiva torna-se uma ferramenta importante na promoção da reciclagem e seus benefícios são vários e alguns deles são destacados por Rodrigues e Cavinatto (2000): redução do resíduo sólido na fonte geradora, reaproveitamento de matérias primas, geração de renda com a inclusão social, minimização do impacto ambiental causado pelo aterramento de resíduos no solo e da poluição das águas e do ar e aumento da vida útil dos aterros sanitários.
Na atualidade, boa parte das embalagens dos produtos consumidos pode ser separada e destinada ao processo de reciclagem. Por meio deste processo, novos materiais surgem dando origem a outros produtos que podem ser absorvidos pelo mercado. No entanto, para que o processo de reciclagem seja possível é preciso que ocorra, primeiramente, a coleta seletiva. Para tanto, a população precisa ter consciência de seu papel participativo.
O processo da reciclagem tem levado muitos desempregados a buscar trabalho neste setor e desse modo conseguir renda para manterem suas famílias. Associações e Cooperativas de catadores de materiais recicláveis já permeiam em grandes e pequenos centros urbanos por todo o Brasil trazendo benefícios a toda população.
Entendendo a importância da coleta seletiva e suas contribuições para o ambiente, o tema foi alvo de estudos por mestrandos do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Lavras, durante a disciplina Ensino, Cultura e Meio Ambiente. O trabalho teve como objetivos conhecer o cotidiano da Cooperativa de materiais recicláveis de Nepomuceno (RECICLANEP), e perceber como os sujeitos da Cooperativa avaliam a participação da sociedade além da contribuição da mesma para que o trabalho da cooperativa aconteça de forma efetiva.


O lixo como problema social e ambiental
Durante a revolução industrial vários fenômenos aconteceram. Os modos de produção artesanal e familiares sofreram um declínio e as indústrias de produção em grande escala passaram a ser dominantes. Impulsionado por essa transformação houve uma grande migração dos povos das áreas rurais para as áreas urbanas. Nesse sentido cada vez mais temos o crescimento das cidades e a diminuição do meio rural. Segundo Mucelin (2008) essa crescente mudança do meio urbano tem causado muitos impactos ambientais como, por exemplo, a produção exacerbada de resíduo motivada pelo consumismo exagerado.
Atualmente os resíduos sólidos produzidos pelas cidades seguem uma classificação pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10004 de 2004. O objetivo dessa normatização é classificar os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e a saúde pública a fim de que tenham um gerenciamento adequado. Ainda segunda a NBR 10004/2004 resíduos sólidos tem a seguinte definição:
Resíduos nos estados sólidos e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviável em face à melhor tecnologia disponível. NBR 1004/2014.
A partir desta definição os resíduos sólidos seguem a seguinte classificação de acordo com a normatização:
  1. Resíduos Classe I – Perigosos
  2. Resíduos Classe II- Não Perigosos
3- Resíduos Classe II A- Não Inertes
4- Resíduos Classe II B- Inertes
De acordo com Costa e Fonseca (2009) os novos padrões de consumo resultantes dos avanços tecnológicos tem gerado uma produção de resíduos crescente em ritmo superior a capacidade de absorção da natureza. Além de grandes quantidades o descarte incorreto desses resíduos é capaz de colocar em risco e comprometer os recursos naturais.
Tendo em vista a crescente problemática do uso de recursos naturais e do descarte de resíduos sólidos, a partir dos anos 70 iniciou-se politicas objetivando o esclarecimento de normas referentes à forma mais adequada de coleta e, principalmente de disposição do material descartado. Em países industrializados a tendência é de estabelecimento de critérios e incentivos que permitam a implantação de programas de prevenção e redução de resíduos na fonte geradora além de programas de recuperação dos recursos dos resíduos (BROLLO e SILVA 200).
O grande avanço tecnológico e o processo de industrialização, em todo o mundo, tem gerado um grande acúmulo de resíduos sólidos. Em 2010 no Brasil, surge a Lei N. 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tendo como meta resolver o problema da destinação final adequada no Brasil, com os princípios, os objetivos, as diretrizes e os instrumentos relativos à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, estabelecendo, em seu art. 54, o prazo de 04 (quatro) anos para a extinção completa dos lixões e a disposição final dos resíduos sólidos em aterros sanitários.
No entanto, cinco anos após a lei instituída acima, prorroga mais uma vez o prazo para o fim dos lixões, que começa no ano de 2017, como prazo mínimo para a extinção do mesmo, sendo que este prazo varia de acordo com o númer de habitantes do município, se estendendo até 2021 e diante dos prazos definidos na legislação a coleta seletiva torna uma ferramenta que vem para contribuir uma boa parte com a extinção dos lixões. (BRASIL, 2015)
A coleta seletiva está amparada no decreto Nº 5.940, de 25 de outubro de 2006 onde há a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências e segue em seus respectivos artigos:
Art. 1o  A separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis são reguladas pelas disposições deste Decreto. 
I  - coleta seletiva solidária: coleta dos resíduos recicláveis descartados, separados na fonte geradora, para destinação às associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis;
Art. 3o  Estarão habilitadas a coletar os resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direita e indireta as associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis que atenderem aos seguintes requisitos:
I - estejam formal e exclusivamente constituídas por catadores de materiais recicláveis que tenham a catação como única fonte de renda;
  II - não possuam fins lucrativos;
III - possuam infraestrutura para realizar a triagem e a classificação dos resíduos recicláveis descartados; IV - apresentem o sistema de rateio entre os associados e cooperados. 


Em relação a separação dos resíduos sólidos existem diferentes formas de descarte de resíduos como Aterros Sanitários, Lixões, Incineradores, Reciclagem e Usinas de compostagem. Dentre os destinos possíveis para o lixo, um dos mais agressivos é o descarte sobre o solo a céu aberto e sem critérios técnicos e ações de proteção ao meio ambiente conhecidos como lixões (AZEVEDO, 2015). Esse lixo acumulado libera um líquido de coloração escura e mal cheirosa chamado chorume, que contamina o solo e as águas subterrâneas (ARAUJO et. al. 2006).
Além disso, Pereira Neto (2007) ressaltam que esses ambientes são propícios para proliferação de vetores de doenças e para o crescimento da população de ratos baratas e moscas entre outros animais. A associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2013) revela que 3.344 municípios ainda descartam os resíduos em locais impróprios sendo 1569 desses municípios em lixões, ainda que esse seja uma forma inadequada de disposição final.
Neste sentido a reciclagem feita de modo correto, no qual todos os resíduos sólidos são devidamente separados tem sido uma das opções mais adequada para o descarte do resíduo solido, porém, não pode desvincular da diminuição do consumismo, pois, não é pelo fato de ter um destino final das embalagens, que o consumo deve ser promovido.
Além dos problemas ambientais os lixões também são a fonte de grandes problemas sociais. Siqueira (2008), afirma que as condições de trabalho dos catadores de materiais recicláveis são precárias. As famílias improvisam barracos nas proximidades dos lixões e convivem com os resíduos diariamente, as crianças brincam sobre os resíduos sólidos enquanto os pais fazem a seleção de materiais recicláveis e de materiais que julgam em condições de uso. Muitas das vezes o contato direto com este ambiente podem causar problemas de saúde para os envolvidos pelo fato de conviver com transmissores de doenças e materiais cortantes. As cooperativas de catadores são importantes para a melhoria dessa sociedade exposta a tantos problemas.
Além do problema social de quem trabalha diretamente com o manuseio resíduo sólido, outros fatores podem ser considerados como efeitos negativos do excesso do mesmo para a sociedade como, por exemplo, contaminação, intoxicação e poluição. Segundo Ferreira (2001), a decomposição do lixo forma gases que podem provocar muitas doenças inclusive doenças respiratórias, causar explosões e poluição do ar.
Tendo em vista os problemas sociais e ambientais causados pelos resíduos sólidos, é necessário um esforço para que em primeiro lugar, o consumismo seja diminuído, o que exigiria menos matéria prima, em segundo lugar, para que o poder público se empenhe em dar o descarte correto ao resíduo sólido e propiciar condições para que a reciclagem possa se tornar fonte primaria de descarte em nosso país.


Associações e Cooperativas como uma das alternativas para o meio ambiente.
Ribeiro e Besen (2006) mostram que a organização dos catadores no Brasil iniciou-se em 1985, com a formação da Associação de Carroceiros no Município de Canoas, e em 1986, com a fundação da Associação de Catadores de Material de Porto Alegre, da Ilha Grande dos Marinheiros, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Em São Paulo constituiu-se a organização dos Sofredores de Rua (1986), que se tornou a Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis – Coopamare (1989), e em Belo Horizonte (1990) formou-se a Associação de Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável – Asmare.
De acordo com Rodrigues e Cavinato (2000), o processo de reciclagem significa transformar produtos usados em matéria prima para novos produtos para o próprio consumo. Esta necessidade foi despertada pelos seres humanos a partir do momento em que se verificaram os benefícios que estes procedimentos trazem para o planeta terra. Por meio do processo de reciclagem, preserva-se o meio ambiente e também se geram condições de trabalho para muitas pessoas que se envolvem no processo.
O processo de reciclagem tem levado muitos desempregados em várias cidades a buscar trabalho neste setor e assim conseguir renda para manterem suas famílias. Associações e Cooperativas de catadores de materiais recicláveis já permeiam em grandes e pequenos centros urbanos por todo o Brasil trazendo benefícios a toda população. Muitos municípios já contam hoje com a coleta seletiva feita em alguns casos por parcerias com prefeituras para melhoria de condições de trabalho, na qual o material a ser reciclado já chega as fábricas pronto para ser organizado, evitando assim um árduo trabalho por meio de carrinhos manuais.
Diante deste fato, alternativas como a reciclagem tem causado uma grande mudança no atual cenário ambiental, uma vez que são destinados às cooperativas e associações de matérias recicláveis uma boa parte do resíduo sólido produzido pelas pessoas e também pelo processo de industrialização.
Pereira (2013) relata que o percentual de cidades que mantêm cooperativas e associações de catadores chegam a 65% do agregado. O apoio às cooperativas se baseia em maquinários, galpões, ajudam de custo com água e energia elétrica, capacitações e investimento em educação ambiental para que aconteça um trabalho de qualidade.
O trabalho é realizado por meio de uma separação de muitos produtos por meio de coleta seletiva, vindo de várias fontes do município, como casas residenciais, empresas de diferentes comércios, indústrias, escolas, entre outras e delas se destacam os principais objetos, vidro, alumínio, papel, metal, óleo de cozinha e o plástico, e por meio da reciclagem obtém-se a diminuição significativa da poluição do solo, da água e do ar.
Na atualidade, em boa parte dos produtos consumidos a embalagem pode ser separada e destinada ao processo de reciclagem, e por meio deste processo novas materiais surgem dando origem a outros produtos que podem ser absorvidos pelo mercado, e, além disso, podem gerar mais matérias-primas, reduzirem os gastos com os custos de produção.
A participação da população nos programas de coleta seletiva é voluntária na maioria das cidades. A mobilização para a separação dos materiais recicláveis na fonte geradora – papéis, vidros, plásticos e metais, entre outros – é realizada através de campanhas de sensibilização promovidas junto aos bairros, condomínios, escolas, comércio, empresas e indústrias (RIBEIRO; BESEN, 2006).
Diante das diferentes alternativas para o destino final dos resíduos sólidos produzido, nota-se que é possível verificar a grande importância do trabalho das cooperativas e associações dentro do município, considerando que uma das grandes preocupações do momento é a situação ambiental no mundo e tendo em vista que o resíduo sólido produzido tem causado sérios danos à natureza, a alternativa acima vem como meio de trabalho, inclusão social e também ferramenta de proteção ambiental. Cabe ressaltar que além das cooperativas e associações, existem também os catadores individuais que fazem seu trabalho de forma autônoma.
Braz et al. (2014) mostram que os catadores de resíduos recicláveis estão subdivididos em três categorias: os catadores de rua e dos lixões, os que trabalham de maneira autônoma e os organizados em associações e cooperativas. No Brasil, estima-se que o número de catadores de materiais recicláveis seja de aproximadamente 500.000(quinhentos mil), estando 2/3 no estado de São Paulo. Conforme dados da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia – COMURG, em Goiânia, no ano de 2004, foram identificados 506 catadores que coletam materiais recicláveis na cidade (MEDEIROS; MACEDO, 2006, p.65).
Percebe-se que o trabalho dos catadores é uma garantia de trabalho feito por eles mesmo, uma vez que tanto a decisão de ir para ruas, lixão, ou até mesmo a iniciativa de uma associação ou cooperativa, é uma tomada de decisão individual, e decisão muitas vezes forçada, porque muitos deles não conseguem empregos formais e veem na reciclagem de produtos uma única fonte de trabalho para tirar o seu sustento e da sua família.
No entanto, diante de todas as mazelas, precarização e dificuldades encontradas pelas associações e cooperativas, as mesmas estão crescendo de forma significativa por todo país além de se tornarem uma contribuição muito grande na prevenção do meio ambiente e na próxima seção será abordado os benefícios ambientais que são promovidos pelas mesmas.
A coleta seletiva e a reciclagem têm um papel fundamental para o meio ambiente, por meio delas diminuem a retirada de novas matérias-primas que seriam retiradas da natureza. Pode-se definir a coleta seletiva da seguinte forma “é um processo de recolhimento de materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora e que podem ser reutilizados ou reciclados.” A coleta seletiva funciona, também, como um processo de educação ambiental na medida em que se sensibiliza a comunidade sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e da poluição causada pelo resíduo sólido.


Metodologia
O método de pesquisa foi observação e questionário semiestruturado, sendo que esta se trata de uma pesquisa qualitativa e descritiva. Os dados foram também coletados por meio de troca de informações com os cooperados e o administrador da cooperativa. Para atingir os objetivos da pesquisa, foram pesquisados dados sobre a estruturação da cooperativa, sobre a coleta seletiva, quantidade de material, escolaridade, salário e sobre as condições de trabalho dos cooperados.

Procedimentos
Na medida em que acontecia o processo de observação, as dúvidas iam surgindo e a partir delas, procurava-se fazer novas observações. Para analisar os dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo das informações repassadas pelo administrador e a leitura das anotações que foram realizadas durante o período de observação.

Locus da pesquisa
O trabalho foi realizado em uma cooperativa de catadores de matérias recicláveis do município de Nepomuceno, no estado de Minas Gerais. A mesma se encontra a 3 km da cidade, e funciona próximo ao antigo lixão. O trabalho acontece em um galpão construído pela Prefeitura, que possui em torno de 500m², tendo apenas cobertura, possui uma copa e um banheiro.
A Cooperativa foi fundada em setembro de 2013 em parceria com a Prefeitura Municipal. O nome fantasia adotado foi Reciclanep. A cooperativa está formalmente regularizada, uma vez que possui alvará de funcionamento, paga seus tributos ao INSS, recolhe FGTS dos trabalhadores e paga todas as despesas junto da Receita Federal.
Atualmente, são 14 cooperados que vivem da renda da cooperativa e três funcionários que são pagos pela mesma. Os cooperados são oriundos do antigo lixão, sendo seis homens e oito mulheres. A cooperativa é administrada por um funcionário contratado pela cooperativa
A Prefeitura subsidia a Cooperativa repassando os valores referentes às despesas com o pagamento de Receita Federal.

Resultados e discussão

Entre os benefícios da cooperativa de catadores de materiais recicláveis do município de Nepomuceno podem ser destacados os seguintes: a coleta seletiva contribuiu para aumentar a consciência ecológica da sociedade, pelo fato de chegar até a cooperativa, vinte cinco por cento de material reciclável que antes eram todos destinados para o lixão; auxilia na geração de renda para os antigos trabalhadores do lixão; proporciona benefícios econômicos para o município uma vez que os cooperados contam com um salário mensal; diminuiu o trabalho feito com a limpeza urbana devido ao processo de coleta seletiva.
Uma descoberta que merece destaque é o fato de alguma residência não disponibilizar para o caminhão de coleta alguns tipos de materiais que são considerados de maior valor como pet, alumínio e metal. Isso ocorre porque o mesmo comprador que compra os materiais recicláveis da cooperativa compra também diretamente da população passando nas casas. Com isso, os moradores preferem ganhar algum dinheiro vendendo diretamente estes materiais do que fornecer para a cooperativa.
Segundo os cooperados a venda dos materiais é feita dentro do município devido ao fato que eles ainda não têm uma produção suficiente para que sejam vendidos na “REDE”
Aquino et al (2009) mostra que a mesma é formada pela união de varias associações e cooperativas que se tem como objetivo propor uma forma de organização logística para as associações de catadores de materiais recicláveis realizarem a comercialização direta de seus produtos às indústrias recicladoras, visando à agregação de valor e partir da organização das associações de catadores em rede, todas elas conseguem comercializar produtos diretamente com indústrias recicladoras, e, juntas, obteriam uma agregação de 32% no valor dos produtos comercializados.
Com isso nota-se que se a população contribuísse mais com a separação do material, a quantidade de produção aumentaria e com isso o ganho econômico dos cooperados da cooperativa também seria maior. Outro fator que chama a atenção foi um dos relatos de uma cooperada, que disse que existe uma grande procura de novas pessoas que querem se incorporar ao grupo, mas segundo a mesma isto não é possível devido à baixa produção, e que hoje eles contam com 25% de material reciclável e se chegasse a 40 % eles não daria conta, por causa do trabalho ser quase todo manual, e só assim seria necessário ter mais cooperados.
Embora a cooperativa tenha sido criada com o intuito de retirar os catadores de materiais recicláveis do lixão, esse objetivo não foi totalmente atingido. Isso ocorre porque há uma parcela significativa da população que ainda não contribui com o trabalho da cooperativa, ou seja, não separa o resíduo sólido reciclável do resíduo sólido descartável nas residências.
Assim, muitos cooperados ainda vão para o lixão – que fica próximo a usina de reciclagem – para buscar materiais que são recicláveis e que não deveriam estar no lixão. Nessa situação, mais uma vez, fica evidente a necessidade de promover ações de conscientização da população.
A coleta seletiva também é feita em parceria com a Prefeitura que fornece o motorista para fazer o trabalho do caminhão e os funcionários da cooperativa trabalham de forma alternada no recolhimento dos materiais recicláveis nas portas das residências e essa coleta é feita todos os dias, alternando a rota de passagem nos bairros.
A estimativa de quantidade de material coletado circula entre 3 a 4 toneladas por dia. No entanto, conforme informam os cooperados, chega-se a usina de reciclagem, todos os dias, juntamente com o material que é reciclável, uma quantidade significativa de material que é refugado como madeira, isopor, tecidos, e este material são retirados do local todos os dias e levado para o lixão.
No que se refere à venda do material reciclável, o principal comprador é do próprio município, sendo ele proprietário de uma usina de reciclagem autônoma e particular. Este, no entanto, também faz coleta seletiva nas ruas da cidade, comprando diretamente dos moradores os materiais de maior valor. Isso se configura como um empecilho aos cooperados que acabam não recebendo estes materiais de maior valor como pet, latas de alumínio, metais entre outros. Tendo em vista que a população vende diretamente a este coletor, eles não entregam estes materiais gratuitamente para a reciclagem preferindo ganhar com esta negociação.
Observa-se, portanto, que embora a coleta seletiva tenha sido implantada, não houve conscientização por parte da população de que o esforço em selecionar o material para destinar à usina é benéfico no sentido de gerar renda para cooperados em condições de vulnerabilidade econômica. Conforme discutem Rodrigues e Silva (2009, p.175), a educação ambiental poderia ser muito benéfica nesse sentido, uma vez que “a educação ambiental é um dos meios para se adquirir as atitudes, as técnicas e os conceitos necessários à construção de uma nova relação com o meio ambiente”.
A educação ambiental conscientizadora poderia ser de grande utilidade para ajudar a população a repensar suas ações uma vez que ao disponibilizar esses materiais para a coleta seletiva ela estaria contribuindo para a geração de renda dos cooperados que vivem em condições de vulnerabilidade social e econômica. Assim, deve-se mostrar como é importante que se tenha ações conjuntas quando se trata de coleta seletiva, ou seja, cooperativa e prática de educação ambiental apesar de encontrar diversos conflitos devem tentar unir-se com o poder público e com a sociedade para que aconteça um movimento realmente favorável de melhoria de qualidade de trabalho e vida para os trabalhadores.

O sistema de trabalho dos cooperados e funcionários

O trabalho dos cooperados é fazer a triagem e separação dos materiais, sendo que todo material é separado por qualidade, sendo: pet, por cores separadas, papelão liso, de cor, úmido, molhado, papel branco, entre outros, e segundo os cooperados cada um tem seu preço, dependendo de quais situações ele chega ate a usina. Esse processo não segue uma divisão formal do trabalho. Cada cooperado atua em forma de rodízio, ou seja, eles não possuem um posto de trabalho fixo. Um dia, atua separando plástico, no outro separando papel, no outro embalando para venda e assim por diante.
Apesar da criação da cooperativa em 2013, ainda hoje, as máquinas não estão funcionado porque o sistema de voltagem das mesmas é incompatível com o sistema da usina. A Prefeitura ainda não providenciou a adequação apesar de ser um pedido constante junto aos órgãos competentes. Por isso, praticamente todo o trabalho de triagem, prensagem e embalagem é feita manualmente.
A carga horária de trabalho dos cooperados é de 8 horas diárias, começando logo bem cedo e com termino às catorze horas. Permanece sempre um vigia no local, pois há relatos de roubo e vandalismo na cooperativa. Eles fazem suas refeições no próprio local. Os cooperados utilizam equipamento de segurança, como luvas, máscaras, botinas entre outros e reconhecem a importância do uso dos mesmos. Os cooperados relataram que há indagações a respeito do horário de trabalho dos mesmos, pois segundo eles muitas pessoas acham que o trabalho deveria acontecer o dia todo.
Diante dos relatos dos cooperados outro ponto importante a ser destacado quanto ao trabalho realizado, onde todas as decisões são tomadas em união do grupo, por meio de assembleias para que tudo seja votado. A convivência entre os cooperados criam apresenta relações de respeito e de cumplicidade. Em um dos relados a cooperada relatou a compreensão e o entendimento com aqueles trabalhadores de idade mais avançada que não tem uma produção elevada. A partir disto podemos perceber a satisfação dos cooperados em relatar um trabalho onde há espaços para descontração, brincadeiras e respeito mutuo.
O salário mensal que os cooperados recebem está entre R$800,00 e R$1.000,00. Esse salário é pago com a venda dos materiais recicláveis uma vez que a prefeitura subsidia apenas os gastos com Receita Federal, motorista e manutenção do caminhão usado na coleta seletiva.

5. Considerações gerais

Entre os benefícios da cooperativa de catadores de materiais recicláveis do município de Nepomuceno podem ser destacados os seguintes: a coleta seletiva contribui para aumentar a consciência ecológica da sociedade; auxilia na geração de renda para os antigos trabalhadores do lixão; proporciona benefícios econômicos para o município uma vez que os cooperados contam com um salário mensal; diminuiu o trabalho feito com a limpeza urbana devido ao processo de coleta seletiva.
Um dos benefícios que merece mais destaque é a mudança significativa da quantidade de resíduos sólidos que é retirado do meio ambiente e que se torna matéria-prima para novas embalagens diminuindo os impactos ambientais.
No caso da Reciclanep é notável que a parceria com a prefeitura local seja uma das condições que possibilitam o funcionamento da mesma, porque os ganhos pela produção não compensaria tributos com a receita, como também despesa com caminhão de coleta.
Outro ponto que merece destaque está relacionado com a forma de divisão do trabalho, percebemos que o regime de trabalho dos mesmos foge as bases do capitalismo, e o trabalho é baseado na cooperação com respeito, compreensão e divisão de trabalho de forma justa. Os associados relataram que gosta de trabalhar na cooperativa, e estão no local por opção.
Em relação ao que é resíduo sólido na atualidade é notável que a palavra conota a outras formas de entendimento, uma vez que para a grande maioria da sociedade descarta “resíduo sólido” para muitos não é resíduo sólido, e tomando como caso especifico da Cooperativa de Nepomuceno, o material reciclável que chega até a usina de separação, é preciso que tenha um vigia vinte quatro por dia, porque caso o contrário pessoas vão até o local para furtar o material já recolhido.
Pode-se, portanto, concluir este trabalho afirmando que a coleta seletiva e a organização dos trabalhadores catadores de resíduos sólidos em cooperativa se configuram como uma alternativa importante e viável para contribuir com os impactos ambientais na perspectiva de minimizar o problema do resíduo sólido e da falta de renda dos sujeitos envolvidos nesta atividade. Mas, se estes dois aspectos não foram implementados juntamente com ações sociais conjuntas que visam promover conscientização da população, como também buscar juntamente seus direitos ao poder publico, a necessidade de transformar se perde no meio do caminho.
Portanto, por meio dos resultados obtidos entende-se o município pesquisado precisa ser conscientizados em relação a sua participação junto ao meio ambiente, entendendo que o meio ambiente não é uma parte em si só, mas sim tudo que o cerca e que o homem faz parte de tudo que se relaciona com o meio ambiente. Os sujeitos devem ter condições de participar e agir sobre o problema encontrando meios para solucioná-los sustentavelmente.
Loureiro (2004) define participação da seguinte forma: participar é compartilhar poder, respeitar o outro, assegurar igualdade de decisão, propiciar acesso justo aos bens socialmente produzidos, de modo a garantir a todos a possiblidade de fazer sua história no planeta, de nos realizarmos em comunhão. Participação significa o exercício da autonomia, com responsabilidade, com a convicção de que a nossa individualidade se completa com a relação com o outro e o mundo e que a liberdade individual passa pela liberdade coletiva.
Portanto, conclui-se que uma Educação Ambiental critica transformadora, emancipatória e libertadora deve ser pautada em um conhecimento vivo e real, eles devem ser apropriados, construídos de forma coletiva, cooperativa, continua, interdisciplinar, democrática e participativa, com a intenção de se ter grupos ativos e participantes na melhoria do meio ambiente, a autonomia de grupos sociais na construção de alternativas sustentáveis, o amplo direito à informação como condição para a tomada decisão, mudanças de atitudes, aquisição de habilidades especificas, a problematização da realidade socioambiental (LOUREIRO, 2010).
É preciso defender a promoção de ações conjuntas para que se consiga realmente promover maior qualidade de vida para a população seja no sentido de retirar trabalhadores do lixão gerando renda para eles, como também retirar o resíduo sólido reciclável do meio ambiente. No caso de Nepomuceno em relação à educação ambiental, os resultados deste trabalho mostram que é preciso um trabalho voltado para esta área a fim de ter uma melhoria social significativa tanto para os cooperados, como também para todo o município e um trabalho que envolva ações educativas criticas e que desperte o olhar de futuros pesquisadores podem ser objetos de estudo para uma nova pesquisa.

REFERÊNCIAS
AQUINO, I. F. de; CASTILHO JUNIOR, A. B.; PIRES, T. S. de L. A organização em rede dos catadores de materiais recicláveis na cadeia produtiva reversa de pós-consumo da região da grande Florianópolis: uma alternativa de agregação de valor. Gestão e Produção, v. 16, n. 1, p. 15-24, jan-2016.

ARAÚJO, B. G. P.; OLIVEIRA JÚNIOR, E. F.; VIEIRA JUNIOR, A. S. Resíduos Sólidos Urbanos: análise sobre a situação do conjunto Albano Franco – Riachão do Dantas–SE. 2013. Disponível em: http://fjav.com.br/revista/Downloads/EdicaoEspecialdaPosLatoSensuemTerritorioDesenvolvimentoMeioAmbiente2013/Artigo45_58.pdf. Acessado em: 20 de Jan.de 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (ABRELP). Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2011. Disponível em: http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2011.pdf. Acesso em: 20 de jan.de 2016.
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