PANORAMA
DA EDUCAÇÃO NO BRASIL HOJE
Celso
Vallin - Dep. Educação UFLA - 2020
O Brasil
precisa muito melhorar sua educação. Para quem faz um curso
superior em licenciatura, é interessante perceber que, por meio de
sua profissão poderá colaborar num problema de grande relevância
social. Mas é preciso compreender onde e como são os problemas, e
também perceber avanços que tivemos mais recentemente, para
valorizar o que já conquistamos. Atuar de forma crítica significa
perceber as duas coisas: os problemas, e as conquistas.
ANALFABETISMO
O analfabetismo de jovens e adultos
no Brasil passou de 12% em 2004 para 9% em 2012 considerando pessoas
com 15 anos ou mais
(http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32962).
Dados de 2019 mostram que o Brasil ainda tem uma quantidade muito
grande de analfabetos. São 11 milhões de pessoas (Jornal BRASIL DE
FATO, 2019 -
https://www.brasildefato.com.br/2019/09/10/chance-de-acabar-com-analfabetismo-no-brasil-ate-2024-e-zero-afirma-especialista).
É muita gente, quase 7% da população. É considerada analfabeta a
pessoa que não consegue ler e escrever um recado simples como
“Maria: fui ao mercado”. Imagine, o que consegue fazer em sua
vida uma pessoa assim, hoje? Que oportunidades terá? São pessoas
que têm dificuldade para conseguir trabalho e renda e se integrar à
sociedade. O problema tem solução: a Bolívia conseguiu estar livre
de analfabetismo; foi uma conquista dos anos de governo indígena
(Evo Morales). No Brasil, em 1964 Paulo Freire encabeçava um
programa nacional de alfabetização, mas por causa do golpe militar
foi preso e depois exilado.
Em 2009 no estado de Minas Gerais
tivemos o Proalfa (Programa de Avaliação da Alfabetização) que
diagnósticou lacunas da alfabetização. Programas como esse demoram
anos e conseguem sua efetividade na medida em que são feitas
correções de rumo baseadas na praxis do cotidiano das formações,
no modo de atuar de quem faz a formação e, da ação pedagógica
(alfabetização nesse caso). Infelizmente o programa não teve
sustentabilidade política suficiente. Sofreu interrupções e
descontinuidades.
No nível nacional tivemos o Pnaic
(Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa). Em 2011 houve
uma avaliação que mostrou que quase metade dos/das estudantes do
terceiro ano fundamental não estavam bem alfabetizados. Em 2013
começa uma formação de professores, mas de forma incremental e
meio improvisada. O programa funcionou por poucos anos e foi
interrompido.
Em 2014, foi estabelecida uma lei, o
PNE (Plano Nacional de Educação), para se acabar com o
analfabetismo no Brasil até 2024. Já estamos em 2020 e é fácil
notar que isso não está acontecendo. Ainda mais porque no governo
Temer foi aprovada a mudança da Constituição (Emenda
Constitucional 95/16) que congelou gastos com educação por 20 anos,
e também pela crise econômica que começou em 2014 e se agrava até
hoje, e agora pela pandemia de covid-19.
Muitos dos problemas encontrados em
anos mais avançados de estudo estão ligados ao fracasso na
alfabetização, ou a uma alfabetização incompleta. Encontramos
estudantes com dificuldades na leitura e escrita mesmo nos cursos
superiores. Dai a importância de se ter e reforçar políticas de
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.
CONQUISTAS RECENTES
Por outro lado é possível apontar
algumas ações positivas nas últimas décadas. A educação era
obrigatória somente dos 7 aos 14 anos e agora esse direito vai dos 4
aos 17 anos (Emenda Constitucional nº 59/2009). Com isso a educação
infantil e o ensino médio passaram a ser obrigatórios. Antes,
somente o ensino fundamental era obrigatório, e essa etapa tinha
duração de apenas 8 anos. A partir de 2006 passou para 9 anos (lei
11.274). Na realidade observa-se claramente um aumento das crianças
e jovens que frequentam a escola. Até bem pouco tempo grande parte
da população mais pobre só começava a ir para a escola com 7
anos. E já entrava de modo defasado aos demais, que tinham começado
mais cedo. Não se pode imaginar que o problema da oferta de educação
pública de qualidade esteja atendido, mas a frequência escolar a
partir dos 4 anos já é uma realidade: a média para o Brasil, em
2018 é de 92% na escola (IBGE - Informativo Pnad Contínua -
Educação, 2019 -
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101657_informativo.pdf).
A criança que começa a escolaridade aos 4 anos ou antes, terá um
potencial melhor para se alfabetizar entre 6 e 8 anos, que é
considerada como a "idade certa". As crianças menores,
mesmo não sendo alfabetizadas, estarão mais preparadas para
frequentar uma escola, usar caderno e lápis, mexerem com livros de
história, ver números e palavras, e outras capacidades. É uma
realidade que trará frutos nos anos seguintes. As crianças que
igressaram na educação infantil com 4 anos em 2017 estarão
concluindo o ensino médio em 2031, se forem sempre aprovadas.
Por meio do programa (Proinfância)
entre 2007 e 2015 foram construídas 2.533 escolas de educação
infantil. Isso foi, e ainda é, importante para o Brasil. Ainda mais
quando se compara com alguns países ricos, que não precisam
construir nem 1 escola, pois já atendem a demanda. Ao mesmo tempo
esse programa avançou menos da metade do previsto e há problemas de
muitas ordens, inclusive corrupção
(https://www.cartacapital.com.br/educacao/o-proinfancia-e-a-dificuldade-de-construir-creches-no-brasil/).
No âmbito do ensino médio tivemos
um grande programa de re-formação de docentes que já estavam em
serviço, o “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”
que aconteceu, mas foi interrompido quando estava apenas começando,
embora tenha custado muitas energias de universidades, escolas e
professore/as do ensino médio, e também dinheiro público. Esse
programa foi sucedido pela lei do “novo ensino médio”, e pela
BNCC, que vão na direção contrária.
Foram criados muitos cursos de
licenciatura em universidades públicas. Na UFLA até 2008 não havia
cursos noturnos. Hoje temos licenciaturas que acontecem no diurno e
no noturno, permitindo o acolhimento de pessoas que trabalham e não
conseguiriam estudar de dia. A UFLA atende estudantes de toda a
região e alguns que vêm até de outros estados. A chegada de ônibus
cheios de estudantes que vêm de Nepomuceno, Luminárias, Nazareno, e
outros municípios vizinhos, todas as noites, e sua presença
marcante nos cursos de licenciaturas, é um sinal forte de uso social
da universidade pública. A abertura de novas vagas de licenciatura
foi uma política do programa Reuni em todo o país e ajudou a
diminuir a necessidade de contratação de professores leigos, que
atuavam em grande porcentagem nas escolas brasileiras. Antes disso
aconteceram projetos como o Veredas em Minas Gerais que permitiram a
formação inicial para professores leigos que estavam em serviço em
escolas públicas. Para se construir um país que seja de todos, em
que a população possa viver com dignidade, é preciso erradicar o
analfabetismo e avançar na escolarização. Mas não só isso. É
preciso conseguir fazer uma educação que vá além da reprodução
de operações, que não seja tecnicista e somente memorizadora.
Queremos uma escola que desenvolva a autonomia de estudo e a crítica
social.
A UFLA possui hoje 8 licenciaturas:
Matemática, Educação Física, Filosofia, Física, Química,
Biologia, Letras e Pedagogia. Isso é muito importante para alimentar
a região com professores bem formados. Porque hoje ainda é
observado que grande parte dos/das professores/as contratados para
escolas básicas são temporários, e não concursados, e não vêm
de uma formação que se possa considerar de bom nível,
infelizmente. É desagradável falar isso, mas ainda temos muita
gente formada em cursos aligeirados, muitos deles por meio da
educação a distância barateada.
Outro avanço que tivemos nos
últimos anos foi o sistema de ingresso por cotas. A nossa
universidade há 10 anos era quase toda povoada só por pessoas de
pele branca, destoando da diversidade que se via na própria cidade,
a poucos metros de distância. Hoje já temos grupos internos que
trabalham a valorização da diversidade, do movimento negro, e de
lutas contra opressões sociais históricas que muitas vezes se
reproduzem nas relações de aula e na universidade. Estudos mostram
que já temos MAIORIA de negros frequentando as universidades, em
média, para o Brasil inteiro. E em relação a professores
negros/as, também vem aumentando a quantidade, embora seja um
processo mais lento e posterior.
Já tivemos também na UFLA a oferta
de cursos de especialização de professores, como foi o caso do GDE
(Especialização em Gênero e Diversidade na Escola), que realizou
formação continuada para centenas de docentes da região. Esse e
outros cursos fizeram parte de uma política pública de formação
para a diversidade, desenvolvida pelo MEC e que depois foi
descontinuada.
Destacamos ainda as disciplinas de
valorização da pessoa do campo, dos negros, dos indígenas, das
mulheres, da diversidade gênero, que fazem parte do currículo
padrão do curso de pedagogia da UFLA.
Outro avanço importante para a
educação foi a criação do Fundeb. Os recursos aplicados em
educação no Brasil eram tradicionalmente de 5% ou menos, e passaram
para algo próximo a 6% em 2012. No PNE (Plano Nacional de Educação)
conseguiu-se aprovar no Congresso Nacional, em lei, o aumento para
7%, com previsão para aumentar depois para 10%, mas o que vem
acontecendo é o inverso. Diminuem os recursos aplicados em educação
nos últimos anos. Além do que, temos visto uma política
governamental de ataque às universidades públicas.
Apontamos ainda a importância da
lei do Piso Salarial Nacional para o magistério público, aprovada
em 2008 (lei 11.738) que, além de assegurar um salário mínimo,
também contribui para a valorização docente ao estabelecer o tempo
extra-aula como um terço da jornada de trabalho.
Diante dos problemas todos apontados
aqui para o desenvolvimento da educação, é coerente perceber que
são poucas as pessoas que concluiram um curso superior no Brasil.
Mesmo assim, é positivo ver os avanços. Entre 2000 e 2010 a
porcentagem da população que possuia curso superior avançou de 4%
para 8%
(https://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/censo-do-ibge-mostra-crescimento-no-numero-de-brasileiros-com-ensino-superior/).
Em 2018 já eram 16% (
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html
).
Mas se observarmos somente os mais
novos (entre 25 e 34 anos), um estudo da OCDE aponta 21% com curso
superior completo. Entre esses, embora se saiba que muitos têm uma
formação ruim, e/ou não atuam em trabalhos que reconheça seu
diploma, os avanços são significativos e importantes. Os mais
velhos não foram incluidos por esse estudo, porque passaram por uma
realidade de formação diferente, menos intensa ou abrangente.
Essa informação também nos
coloca, professores e estudantes da UFLA, com grande
responsabilidade, visto que estamos entre os poucos que tiveram
acesso aos estudos e temos a possibilidade de atuar para a mudança
social no país, apesar das precárias condições.
Para finalizar podemos ainda
observar a evolução da escolaridade em todos os níveis
Nível de instrução das pessoas com
25 anos ou mais (Brasil - 2018)
Analfabetos - 6,9% (
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html
)
Fundamental incompleto
|
33,1
|
Médio completo
|
26,9
|
Fundamental completo
|
8,1
|
Superior incompleto
|
4,0
|
Médio incompleto
|
4,5
|
Superior completo
|
16,5
|
A tabela acima representa 100% da
população, mostrando quantos porcento de pessoas tem cada faixa de
escolaridade (ou instrução). Somando-se as porcentagens vemos que
os que NÃO COMPLETARAM O ENSINO MÉDIO são 52,6%. Isso é muito
ruim. São pessoas com dificuldades grandes para se inserirem na vida
social e laboral.
Taxa de escolarização
Esse
número representa a proporção entre estudantes e a
população total para um grupo etário.
A taxa ajustada de frequência
líquida = é a proporção entre estudantes que estão na
etapa esperada e população total para uma faixa de idade
Boletim PNAD Contínua Educação -
publicado em 2019, relativo aos dados de 2018
Taxas de Escolarização
(https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101657_informativo.pdf)
0 a 3 anos
|
34,2%
|
|
15 a 17 anos
|
88,2%
|
4 e 5 anos
|
92,4%
|
|
18 a 24 anos
|
32,7%
|
6 a 14 anos
|
99,3%
|
|
25 ou mais anos
|
4,6%
|
As taxas mostram a quase totalidade
(mais de 90%) das crianças frequentam escolas na idade de 4 a 14
anos. Entre 0 e 3 anos a taxa é menor, mas a educação é opcional.
Já na faixa do ensino médio, 15 a 17 anos, temos uma pequena baixa:
88%. Depois vemos uma queda expressiva em relação à faixa de 18 a
24: 32,7%.
Estudam
na Rede Pública
(https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101657_informativo.pdf)
-
Educ. Infantil74,3%
Ensino Médio87,0%Ensino Fundamental82,3%
Superior - Graduação25,8%
Vemos da tabela acima que a grande
maioria do povo brasileiro frequenta escola pública. Esse é um
motivo de orgulho, visto que muitos em países é preciso pagar tem
acesso à escola.
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